segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Terça-feira, 9h15


Uma manhã entre tantas. Um café, o jornal, um cigarro.
As notícias do costume. O caos nas finanças. Os ministros que se demitem. A polícia que prende. A policia que mata. E, numa pequena noticia de fim de página, a polícia que persegue o Major Lobo d’África.
Uns meses atrás, durante alguns minutos, o meu caminho cruzara-se com o do Major.

A revolta tinha falhado, e todos tínhamos consciência disso. Ainda ecoavam alguns tiros pelas ruas, cada vez mais escassos, enquanto retirávamos para as últimas barricadas junto ao Arsenal. Lembro-me vividamente da confusão de gente a correr pela rua sem nunca olhar para trás. Alguns caíam, outros largavam as armas para apressar a fuga. Foi então que de uma transversal sombria emergiram os soldados. Eram poucos mas estávamos demasiado desorganizados para resistir. Alguns fugiram mas a maior parte de nós depôs as armas. Foi então que vi que à frente de o pelotão inimigo estava um Major, coisa pouco habitual para uma unidade tão pequena numa operação de vanguarda. Olhei-o com estranheza enquanto ele trocava algumas palavras com um tenente. Foi então que ouvi o primeiro disparo. A que se seguiu outro. E outro. Soldados a dispararem sobre homens que se rendiam?
Apenas tive tempo de agarrar a arma antes de ser atingido e perder os sentidos.

Nunca me esqueceria daquela cara e a foto no jornal era bastante nítida. Mas porquê? O jornal não dava grandes informações. Apenas dizia tratar-se de um traidor à pátria e de um homem perigoso. Porquê?

J.F.

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