quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sexta-feira, 23:50h

Porquê aquele olhar?
Por uma noite deixei o Bristol. Encontrava-me reunido com pequeno clube literário a que pertencia até à sua dissolução no ano passado. Quando nos encontramos pela primeira vez éramos apenas um grupo de jovens com pretensões a escritores, inspirados pelas revistas literárias em voga. Alguns, como o Tomás, tinham alcançado sucesso, outros, como eu, limitavam-se a escrever para não morrer.
Foi estranho rever as caras que conheci e estão agora tão diferentes. Passou um ano, mas podia ter passado um século. Foi a ausência que mais notei. O Pedro e a Maria, presos em Fevereiro. Miguel, que fugira para França.
Li os primeiros capítulos do meu livro. Ao contrário do que esperava, fui elogiado. Todos pareciam ter gostado, exceptuando…
Exceptuando Marta. Quando acabei de ler o último capitulo e olhei os rostos sorridentes dos meus amigos, notei o olhar perturbado de Marta. O que a fizera ficar assim?

J.F.


Domingo, 14h00

Os olhos de quem se ama nunca se vêem, capitulo IV

Desaparecida.
Toda a felicidade de a ver perto de mim se esbateu na semana seguinte. Dia após dia, esperei por ela no mesmo lugar. Não a voltei a ver.
À medida que os dias se seguiam e a espera continuava fui perdendo todas as cautelas. Interroguei os meus companheiros, clientes fiéis do Bristol, mas ninguém sabia nada de concreto.
Rumores, apenas rumores. De ligações políticas perigosas, de clandestinidade e oposição. Que desaparecera algures para o interior do país.
Rumores, nada mais do que isso.
Relatado por Joszef

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