Bristol Club. 13 de Maio 1927
Ohh aquela noite. O sujeito foi-se embora ao raiar da aurora, tinha um transporte para apanhar. Senti o bar ficar vazio à medida que amanhecia, assim como eu senti nada restar dentro de mim. Ficámos a noite toda a falar e a trocar aqueles olhares, que só quem os troca consegue sentir. Não me lembro de clientes, do senhor Afonso, das raparigas, da banda que tocava doce musica, ou sequer da chuva que batia com toda a força. Estava anestesiada com o sabor envolvente do álcool e das palavras. E que palavras. Muitas delas nunca as tinha ouvido na vida. Como se estivessem guardadas para eu as ouvir num momento especial. Foram palavras efémeras, e desvaneceram quando ele abandonou o club.
A verdade é que com todo este borbulhar de emoções, senti a necessidade de ser amada, na totalidade. De necessitarem de mim. De acalmar uma dor que só eu posso causar. O Rui apareceu. Aquela figura de desesperado despertou em mim memórias e saudades que não pensei ter. E aconteceu. Sim, aconteceu. Tinha esclarecido, no entanto, que seria apenas fruto do meu desejo esporádico e que não significaria que voltasse para ele. Ele concordou mas nos dias seguintes ele foi aparecendo.
Espaço, preciso de espaço. Não suporto a pressão.
Deixei o senhor Afonso sair mais cedo. Penso que preciso de lhe contratar um ajudante.
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