domingo, 20 de setembro de 2009

Quinta-feira, 16h

Quem sou eu esta noite? Fatalista? Materialista? Idealista? Cínico e céptico ou crente e reverente? Não sei.
E por não o saber, nunca o que escrevo significará nada para ninguém. Nenhuma mensagem. Nenhum objectivo. Nunca terei a arte de escrever um grande livro. Nem sequer um pequeno. Nunca serei poeta nem trovador.

Por isso reduzo-me a coleccionar fragmentos, pensamentos que foram meus há uns segundos atrás e que pouco depois nada me dizem. Espelhos quebrados que em nada me reflectem.
Mas um homem tem que viver de alguma coisa. Apenas peço o dinheiro para poder continuar a beber e a sonhar nas noites longas do Bristol. Por isso vendo os meus contos a amigos que acabo de conhecer, companheiros de bebida neste clube.
Amigos dos 10 escudos, amigos dos 20 escudos, com sorte por vezes amigos de 50 escudos. Assim vou sustentando o sonho e o whisky.
Não preciso de mais nada.


J.F.


Quarta-feira, 22h35

Os olhos de quem se ama nunca se vêem, capitulo VIII

Vermelho e negro.
(Não, não é um romance nem uma mesa de roleta)
Velocidade e força contra agilidade e inteligência.
Um rumor surdo que se transforma num ruído ensurdecedor. Ofegante. O chão treme e a terra embebe-se de sangue.

Inicio da noite na praça de touros do campo pequeno.
Motivo: encontrar-me com os meus novos, e até agora desconhecidos, camaradas de luta. (Luta? Qual luta? Nem eu sei.)

Na verdade nunca fui grande aficionado da festa brava. Sortes, derrotes, estoques e apoderados… o simples facto de esta gente utilizar esta expressões com a arrogância de um iniciado que sabe algo mais do que os simples mortais sempre me irritou. E apesar disto, aqui estou.

(Uma noite de festa no Bristol. Algumas palavras trocadas com Luís, o barman. E assim estava marcado um encontro que poderia garantir a minha entrada na Organização. Finalmente um caminho que me levava para junto dela. Foi mais fácil do que esperava.)

Vigio as bancadas febrilmente, expectante em ver surgir os meus contactos, temeroso de ser observado por algum polícia à paisana. Passado um tempo (que me pareceu ser várias horas, mas que pode bem não ter ultrapassado alguns minutos) noto que me fazem sinal de junto do túnel de acesso. Dirijo-me para lá. Uns segundos mais tarde as apresentações estão feitas, um carro espera-nos enquanto me dirijo para a saída. Uma brusca pancada na nuca. O tempo abranda enquanto caio e perco os sentidos. Sangue.

Enquanto isso, na arena, cavalo e cavaleiro dançam com o touro ao ritmo de paso doble.
Relatado por Joszef

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