Bristol Club. 5 Agosto 1927
O que dantes eram saudades do campo, agora são saudades de Lisboa.
Nem tive tempo para desfrutar da brisa fresca que por aqui corre. Recebi uma carta do Luís a dizer que precisava de mim no Bristol. Pedi desculpa a todos dizendo ter uma emergência em Lisboa e fui-me embora. Na verdade nem tive muitos problemas em arrumar as malas, acabadas de desfazer e partir para a capital.
Por cá faz mais calor.
As noites quentes atraem as pessoas à rua, acompanhadas ou sozinhas, vêm para se divertirem e deixarem de parte todos os problemas. Aqui estão alegres. Bebem, fumam charutos, dançam toda a noite. Na verdade, esta foi a crise com que o Luís se deparou. Não conseguiu lidar muito bem com tantas pessoas e precisava de ajuda.
Com o nascer do dia vão deambulando, agarrados a desconhecidos e seus semelhantes, cantando e dançando pelas ruas apertadas da cidade. Há quem tenha sorte e chegue a casa, rompendo pela porta ainda a cantarolar e leve um sermão da mulher ou um aperto de orelhas do pai. Os que não têm sorte, para alem das represálias em casa, há ainda o que pode encontrar nas ruas a caminho de casa. Quando se está bêbado, dizem-se coisas que podem ser verdade e muitas delas sem sentido, mas se chega aos ouvidos errados, podem passar a ouvir mais um sermão na esquadra da policia. Não só por se estar bêbado.
Sem comentários:
Enviar um comentário