domingo, 14 de junho de 2009

Quinta-feira, 00:30 horas

Mais uma noite no Bristol, a mesma madeira de mogno impregnada do cheiro a tabaco turco.
Hoje a noite está calma. Um jornal abandonado no balcão entre copos vazios de Whisky e Gin. Viro as páginas sem atenção. “Perigosos agitadores executados nos Estados Unidos”, parece que eram anarquistas italianos. “Tunney derrota Jack Dempsey em combate controverso”. Interessante, esperava que Dempsey conseguisse recuperar o título mundial.
Largo o jornal e olho para o relógio. Já passa da meia-noite. Ontem ouvi uma história curiosa sobre um amigo de um amigo. Um verdadeiro Don Juan, conseguia conquistar qualquer rapariga. A técnica? Sempre a mesma. Aproximava-se e perguntava as horas. Em seguida olhava-a nos olhos dizendo: “por te ter encontrado, vou recordar para sempre este minuto”.
Bela história. Parece saída de um filme. Podia aproveitá-la, não escrevo nada desde segunda.
Do outro lado da sala senta-se uma rapariga. Morena, olhos verdes. Não sei porque ocorre-me aquele choque momentâneo de há alguns dias. Será a mesma rapariga?

J.F.

Sábado, 01:00

Desde que esbocei o inicio daquela história, na Segunda-feira de madrugada, não a consegui retomar. Todas as noites tento escrever, todas as noites acabo por ficar no Bristol.
Para ser perfeitamente honesto, devo dizer que mesmo quando escrevo não abandono este lugar. A história que comecei passa-se aqui, de uma forma ou de outra.
Um Bristol Club de fantasia, que é ao mesmo tão real como este onde me encontro. Um narrador que já não distingo de mim próprio. E um par de olhos verdes que me atormentam, tal como perseguem a personagem que criei.
Quem de nós será então o mais real? Qual de nós a personagem, qual o autor?
Talvez seja este o meu problema: pensar demasiado, cair em solipsismos.
Sei que não devia ter passado para o papel aquele esboço, citar uma rumba foi aproximar-me do ridículo. De qualquer das maneiras não tenho tempo de o desenvolver. As malas estão feitas e o Capitão Marlow disse que zarpamos de manhã cedo.
Peço outro whisky e vejo as horas passar.

J.F.
Relatado por Joszef

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