quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sexta-feira, 22h36

Os olhos de quem se ama nunca se vêem, capitulo XI

De volta às noites passadas no Bristol. Uma a seguir à outra perdem-se na névoa que me tolda a vista. Será do fumo do tabaco que me envolve? Será de este já ser o terceiro whisky?

No salão dança-se. Atrás do balcão Miss L observa. Um sorriso desenha-se nos lábios finos. Os olhos seguem com um brilho sereno os movimentos dos pares que dançam ao ritmo da milonga. Os seus olhos claros dançam também. É também neles que se fixa o meu olhar. Olho, mas não vejo. Perdido na revolta contra o profundo aborrecimento da vida.
No entanto, entre as raparigas que dançam uma prende-me a atenção. Alta, loura. Eslava, talvez russa. Observo-a, mas alguns segundos depois a sua imagem começa a esbater-se, substituída pela visão de um sorriso. Um sorriso que ganha progressivamente forma na minha mente. A forma da mulher cujo sorriso me prende.

-Belíssima, não é verdade?

Uma voz ao meu lado desperta-me e traz-me de volta ao Bristol. Um homem alto e seco com um bigode fino, vestindo um fato cinzento de corte impecável, dirige-me a palavra. Surpreendido apenas consigo acenar afirmativamente.

-É uma pena…um verdadeiro desperdício…, diz-me com um sorriso inquietante. Ao meu olhar interrogador responde, esclarecendo: Pena uma rapariga tão bela ser comunista. Amanhã à noite estará a dançar o tango na prisão…

Enquanto peço mais um whisky um carro acelera na rua. A russa saiu, acompanhada do homem do fato cinzento. Não voltará a dançar.
Relatado por Joszef

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