sábado, 7 de novembro de 2009

Quinta-feira, 6h30

Os olhos de quem se ama nunca se vêem, capitulo IX


Caminho sem direcção pelas ruas da cidade que acorda sonolenta.
Quando dou por mim encontro-me em S. Pedro de Alcântara. O sol ergue-se lentamente por detrás da silhueta escura do Castelo, enquanto uma velha, cuja roupa é tão escura como negra é a sua solidão, desce lentamente a rua da Glória…

-Porque quer lutar contra a ditadura?

-Porque quero lutar.

-Porque escreve?

-Porque me apetece escrever.

-Mas com certeza que escreve por ter algo para dizer…

-Não.

-Faça o favor de não me voltar a interromper. Quando um escritor escreve fá-lo por ter algo para dizer. Alguma mensagem ou opinião para dar.

-Como sabe vossa excelência que assim é? Conhece, por acaso, a alma de todos os que escreveram desde o inicio dos tempos? Conhece a minha alma?

-Seja. Nenhuma mensagem, nenhuma opinião, nada para dizer. Porque deseja então juntar-se à nossa luta?

-Porque o vosso caminho é o meu caminho, porque nessa luta busco um objectivo.

-Assume então que não luta por compromisso ideológico mas apenas por motivos pessoais? Sabe com certeza que não é o que esperamos dos nossos camaradas.

-Sei…

O sol nasce como todos os dias. Mas para mim, nesta manhã, tudo é diferente.

Relatado por Joszef

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