Os olhos de quem se ama nunca se vêem, capitulo IX
Caminho sem direcção pelas ruas da cidade que acorda sonolenta.
Quando dou por mim encontro-me em S. Pedro de Alcântara. O sol ergue-se lentamente por detrás da silhueta escura do Castelo, enquanto uma velha, cuja roupa é tão escura como negra é a sua solidão, desce lentamente a rua da Glória…
-Porque quer lutar contra a ditadura?
-Porque quero lutar.
-Porque escreve?
-Porque me apetece escrever.
-Mas com certeza que escreve por ter algo para dizer…
-Não.
-Faça o favor de não me voltar a interromper. Quando um escritor escreve fá-lo por ter algo para dizer. Alguma mensagem ou opinião para dar.
-Como sabe vossa excelência que assim é? Conhece, por acaso, a alma de todos os que escreveram desde o inicio dos tempos? Conhece a minha alma?
-Seja. Nenhuma mensagem, nenhuma opinião, nada para dizer. Porque deseja então juntar-se à nossa luta?
-Porque o vosso caminho é o meu caminho, porque nessa luta busco um objectivo.
-Assume então que não luta por compromisso ideológico mas apenas por motivos pessoais? Sabe com certeza que não é o que esperamos dos nossos camaradas.
-Sei…
O sol nasce como todos os dias. Mas para mim, nesta manhã, tudo é diferente.
Relatado por Joszef
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