Bristol Club. 30 Novembro 1927.
Debruçada sobre o balcão com o queixo apoiado na mão, tento imaginar qual o tema de conversa de cada mesa. Já me tinham dito que era uma actividade interessante e estando o Luís a limpar copos, não tenho nada de melhor para fazer com a chuva imensa que cai. O piano começa a tocar lentamente.
Obviamente que o Francisco está a sussurrar ao ouvido da sua acompanhante coisas obscenas que ela parece estar a gostar. Na mesa ao lado estão dois pares de namorados que parecem estar a divertir-se... Pelo menos elas que estão a falar de forma ruidosa, sabe Deus sobre o quê, enquanto eles bebem mais um copo de Porto. Está o senhor Gonçalves na mesa do canto a fumar e mais uma vez a fazer desenhos no seu caderno. No fundo do salão está o grupinho de sempre que se costuma reunir para tratar de assuntos. Desses não quero saber o que estão a falar. O piano acelera o ritmo.
Ao percorrer a sala reparo que está o cavalheiro do cachimbo a olhar fixamente para mim. Levanto-me do balcão, componho a saia e vou ver se lá fora ainda chove. Deixo de ouvir o piano à medida que saio do salão.