quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bristol Club. 30 de Abril 1927

É fim do mês e a chuva voltou, interrompendo o ciclo de calor que já me fazia pensar em pôr as garotas com vestidos mais curtos. Assim tenho de gastar mais lenha para manter o club quente. Pode ser que atraia mais pessoas. Parece-me que as pessoas têm cada vez menos dinheiro.
A senhora Clara ontem veio cá com o marido e com as filhas ver o espetáculo. É escusado dizer que tive de ir avisar o menino Francisco para deixar as saias da Raquel, compor-se e sair pelas traseiras, para voltar a entrar. Lá voltou ele, e com ar de satisfação, foi descendo as escadas que dão acesso ao salão, fez ar de surpresa ao encontrar a família e ninguém notou que nem tinha os botões das calças abotoados.
Ontem foi um bom espetáculo. Veio uma banda do Porto tocar. Entreteram as pessoas de forma adorável e contagiantemente alegre, enquanto as nossas meninas dançavam com os vestidos coloridos que mandei fazer na dona Celeste. O salão encheu-se de dançarinos que fizeram a festa durar até às 4 da manhã. Nada mau, vi pessoas que nunca tinha visto por estas bandas, e pareciam felizes e animadas com toda a musica e cor.
Foi pena o Rui ter vindo tambem. Não veio falar comigo. Tambem porque estava cheia de trabalho, ele sempre compreendeu isso. Mas ficou a observar-me a noite toda. Ainda me dá arrepios só de pensar no olhar desesperado desejando todos os centimetros do meu corpo. Não lhe vou dar esse prazer.
A senhora da limpeza perguntou-me esta manhã porque é que eu tinha acabado com o Rui se "ele é tao jeitoso e boa pessoa". Sabe lá ela o que o Rui é. Decerto, ninguem o conhece melhor do que eu.

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